Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

No Labirintto Z

"Este labirinto [ruas indefinidas] de linhas retas, não de complexidade, aonde o leva o tempo de um homem cuja verdadeira vida está longe." (Jorge Luis Borges)

No Labirintto Z

"Este labirinto [ruas indefinidas] de linhas retas, não de complexidade, aonde o leva o tempo de um homem cuja verdadeira vida está longe." (Jorge Luis Borges)

Soneto de Amor

24.08.11, Zana
Talvez não ser é ser sem que tu sejas,  sem que vás cortando o meio-dia  como uma flor azul, sem que caminhes  mais tarde pela névoa e os ladrilhos,  sem essa luz que levas na mão  que talvez outros não verão dourada,  que talvez ninguém soube que crescia  como a origem rubra da rosa,  sem que sejas, enfim, sem que viesses  brusca, incitante, conhecer minha vida,  aragem de roseira, trigo do vento,  e desde então sou porque tu é,  e desde então é, sou e somos  e (...)

Dorme, meu amor

24.08.11, Zana
Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos. Fecha os olhos agora e sossega o pior já passou há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão desvia os passos do medo. Dorme, meu amor -e a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste e pode levantar-se como um pássaro assim que adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra não hão-de derrubar-me eu já morri muitas vezes e é ainda da vida que tenho (...)

Outra maneira

24.08.11, Zana
Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio". E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos (...)

Resíduo

24.08.11, Zana
De tudo ficou um pouco Do meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa ficou um pouco.   Ficou um pouco de luz captada no chapéu. Nos olhos do rufião de ternura ficou um pouco (muito pouco).   Pouco ficou deste pó de que teu branco sapato se cobriu. Ficaram poucas roupas, poucos véus rotos pouco, pouco, muito pouco.   Mas de tudo fica um pouco. Da ponte bombardeada, de duas folhas de grama, do maço ― vazio ―  de cigarros, ficou um pouco.   Pois de (...)

Não tenhas medo do amor

24.08.11, Zana
Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão devagar sobre o peito da terra e sente respirar no seu seio os nomes das coisas que ali estão a crescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiro e as campainhas azuis; a menta perfumada para as infusões do verão e a teia de raízes de um pequeno loureiro que se organiza como uma rede de veias na confusão de um corpo. A vida nunca foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo. Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a tua mão (...)