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No Labirintto Z

"Este labirinto [ruas indefinidas] de linhas retas, não de complexidade, aonde o leva o tempo de um homem cuja verdadeira vida está longe." (Jorge Luis Borges)

No Labirintto Z

"Este labirinto [ruas indefinidas] de linhas retas, não de complexidade, aonde o leva o tempo de um homem cuja verdadeira vida está longe." (Jorge Luis Borges)

Serradura

22.02.10, Zana

A minha vida sentou-se
E não há quem a levante,
Que desde o Poente ao Levante
A minha vida fartou-se.

E ei-la,a mona,lá está,
Estendida, a perna traçada,
No infindável sofá
Da minha Alma estofada.

Pois é assim: a minha Alma
Outrora a sonhar de Rússias,
Espapaçou-se de calma,
E hoje sonha só pelúcias.

Vai aos cafés,pede um "bock"
Lê o "Matin" de castigo,
E não há nenhum remoque,
Que a regresse ao Oiro antigo!

Dentro de mim é um fardo
Que não pesa,mas que maça:
Um zumbido dum moscardo,
Ou comichão que não passa.

Folhetim da " Capital"
Pelo nosso Júlio  Dantas--
Ou qualquer coisa entre tantas
Duma antipatia igual...

O raio já bebe vinho,
Coisa que nunca fazia,
E fuma o seu cigarrinho
Em plena burocracia!...

Qualquer dia pela certa,
quando eu mal me precate,
É capaz de um disparate,
Se encontra uma porta aberta...

Isto assim não pode ser...
Mas como achar remédio?
--Para acabar este intermédio
Lembrei-me de endoidecer.

O que era fácil-- partindo
Os móveis do meu hotel,
Ou para a rua saindo
De barrete de papel

A gritar "viva a Alemanha"
Mas a minha alma,em verdade,
Não merece tal façanha
Tal prova de lealdade.

Vou deixá-la --decidido--
No lavabo dum Café,
como um anel esquecido.
É um fim mais "raffiné".


       Mário de Sá Carneiro