Neste domingo, o céu gris e pesado
há de trazer tristeza a nós, os pássaros,
que em pétalas pousamos no intervalo
da rotina: verão ocluso e diáfano.
Com asas, mas sujeitos a gaiolas,
os pássaros — que outra coisa? — se amaram,
roçando almas, sãos, dias afora,
roçando peles, vãos, em sonhos-navas.
Raras planícies, muitas cordilheiras
são o real da nossa geografia:
as vias para o ardor são muito estreitas.
Parte! Aqui ficarei como nereida,
presidindo o mar, vendo acrobacias
da antítese do pássaro, a baleia.
Maria Rita Moutinho